quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Smilodon

Smilodon populator, o famigerado "tigre-dentes-de-sabre". Como sua aparência sugere, Smilodon não foi um tigre propriamente dito, mas sim um membro de outro grupo de felinos, os macairodontíneos.

Este clássico animal da pré-história habitou as Américas durante o Pleistoceno e Holoceno, tendo vivido também no Brasil (de onde foram conhecidos, inclusive, seus primeiros fósseis). Sendo a maior e mais robusta espécie do gênero, S. populator chegou a aproximadamente 1,2 m de altura nos ombros, e teve um crânio de quase 40 cm.

Apesar de ser ter sido nomeado em 1842, foi apenas depois de praticamente 100 anos, em 1941, que se publicou um artigo com a descrição de um esqueleto completo de S. populator, estabelecendo então sua anatomia e proporções um tanto diferentes dos grandes felinos atuais.

Porcelana fria, escala 1:10.












segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Campos da Patagônia - Formação Collón Curá

Patagônia, Argentina, durante o Mioceno Médio. Um ambiente quente e de áreas abertas, com poucas árvores e coberto de vegetação rasteira como, por exemplo, as ilustradas gramíneas e flores Amaranthaceae e Asteraceae. 

Depois da Era dos dinossauros, mais uma vez o topo da cadeia alimentar é ocupado por um grande terópode terrestre: Kelenken guillermoi, o maior dos Phorusrhacidae, ou "aves do terror". Tal alcunha não é exagero, pois com um crânio de ~70 cm armado com um bico curvo e afiado, mais de 2 m de altura, garras poderosas e ossos da perna que sugerem velocidade e agilidade altas para uma ave deste porte, Kelenken de fato instaurava o terror para qualquer animal que ele visse como alimento. Dois indivíduos aparecem na cena, cercando individualmente (não estão cooperando) suas presas em potencial, os macrauquenídeos Theosodon sp., que chegam a 2 m de comprimento e quase 1 m de altura nos ombros. Esses mamíferos com aspecto de camelo possivelmente exibiam um tecido nasal complexo semelhante a uma "tromba", mas incapaz de agarrar alimento (não uma probóscide verdadeira, mas sim uma "prorhiscis", similar a animais como alces, saigas, elefantes-marinhos entre outros, o que é inferido para seu parente Macrauchenia). O bando se alimenta entre as árvores Nothofagus sp., e usará essa área de mata mais fechada para tentar despistar as aves predadoras, onde elas perdem a vantagem da corrida em campo aberto.

Ainda na árvore mais próxima, uma mãe Neotamandua australis, com seu filhote agarrado à suas costas, se pendura no tronco. Apesar deste gênero ser considerado próximo do atual Myrmecophaga (tamanduá-bandeira), o fóssil encontrado na Formação (um úmero) mostra certa similaridade ao Tamandua (tamanduá-mirim e tamanduá-do-norte), indicando que possa se tratar de algum outro gênero (é considerado que Neotamandua, como um todo, precisa de uma revisão em suas espécies).

No canto inferior direito, à frente, alguns pequenos animais disputam uma toca. Dois notoungulados com aspecto de roedor, Protypotherium colloncurensis (espécie um tanto grande e robusta para seu gênero), querem tomar a toca cavada por um Peltephilus pumilus, um curioso tatu com chifres. Ele assusta vários percevejos Panstrongylus sp. que moram no buraco, fazendo-os fugir para fora. Focados na própria briga, os Protypotherium e especialmente o Peltephilus não percebem um predador chegar perigosamente perto por trás, um Patagosmilus goini - um marsupial dentes-de-sabre, parente do Thylacosmilus. Os notoungulados, estando de frente para ele, o notarão a tempo e correrão para longe, enquanto o tatu será atacado mas, graças a sua armadura, conseguirá escapar da mordida inicial e recuará para sua toca. Outro Patagosmilus aparece do outro lado da cena, no canto esquerdo entre o lago e a outra abertura da toca, importunando e tentando atacar um Neosteiromys tordillense, ouriço gigante. Este Neosteiromys de Collón Curá é conhecido de alguns dentes menores que os da espécie tipo, N. bombifrons, e sua inclusão no gênero é incerta.

Também no canto direito, um grupo de Astrapotherium guillei se refresca na água. Esses mamíferos de grande porte, com cerca de 4 m, chamam a atenção com suas grandes presas (maiores nos machos) e tromba que deveria os ajudar a coletar alimento. Na margem, vários besouros-rola-bosta se aproveitam das fezes que o bando deixou antes de entrar na no lago. Atrás deles, algumas árvores Podocarpaceae crescem nesta área próxima d'água.

Nova arte para o projeto Tales from the Phanerozoic, de João Macêdo. Confira aqui o capítulo sobre o Mioceno Médio, com a história por trás da cena e informações detalhadas sobre o ambiente e as criaturas.






segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Liopleurodon

O pliossauro Liopleurodon ferox, que nadou nos mares europeus durante o Jurássico Médio e Tardio.

É impossível mencionar este animal sem lembrar de sua participação no documentário de 1999 "Walking With Dinosaurs", que o mostrou como um titã de 25 m. O grande tamanho era baseado em estimativas e suposições sobre fósseis fragmentários que indicariam animais de até 20 m, além da premissa de que os maiores entre todos os plesiossauros nem mesmo tivessem sido preservados/encontrados. Hoje reconhece-se que tais estimativas são exageradas, e os fragmentos sequer podem ser atribuídos ao Liopleurodon. Dessa forma, a espécie é hoje mais precisamente estimada com um crânio de ~1,5 m e cerca de 6 m de comprimento total, com os maiores espécimes talvez chegando a 8 m.

Porcelana fria, escala 1:35.














sábado, 2 de agosto de 2025

Feras Emergentes - Formação Bridger

Um vale em Wyoming, EUA, durante o Eoceno. Após o evento de extinção no fim do Cretáceo e a dizimação dos dinossauros não-avianos, os mamíferos experimentaram sua grande ascenção, ocupando numerosos nichos com formas e tamanhos mais variados do que nunca. Surgiram feras bizarras, grupos que não deixaram descendentes atuais e criaturas que ofereciam um vislumbre do que seriam suas linhagens tão prósperas e, para nós, marcantes hoje em dia.

Em uma floresta rodeada de montanhas e vulcões, um lago reúne animais sedentos, famintos ou apenas em busca de um leve frescor. A figura central trata-se de um visitante, um grande Tetheopsis sp. com um crânio de ~90 cm e cerca de 4 m de comprimento. O animal é conhecido da Formação Washakie, localizada mais ao sul e de idade equivalente (porém mais extensa) à da Fm. Bridger, e a ilustração parte da premissa de que essa espécie possa ter passado pela Formação "vizinha". Seus parentes definitivamente encontrados na região também são vistos na área, com um casal de Uintatherium anceps bebendo no lago. Esses animais eram ligeiramente menores que o Tetheopsis (crânios com aprox. 70 cm e também beirando os 4 m), e exibiam um dimorfismo sexual bem evidente, especialmente nos chifres. 

Essas feras são dinoceratos, grupo com parentesco difícil de decifrar, mas atualmente compreendidos como parte da Laurasiatheria, que inclui os mamíferos ungulados, morcegos, pangolins e a ordem Carnivora. Dinoceratos teriam sido especialmente próximos dos extintos xenungulados, mas há contestação quanto a isso.

Com mais de 2,5 m do focinho à ponta da cauda, um Patriofelis ferox sai da água com uma tartaruga Chisternon undatum abatida, saciando assim tanto a sede quanto a fome. Acreditava-se que esse era um caçador semiaquático devido às suas patas espalmadas, mas tal ideia é hoje descartada - o que, claro, não o impediria de aproveitar oportunidades de caçar algo na água, como na imagem. 

Ainda no lago, capturando moluscos, há um par de pequenas Aletornis gracilis, um gênero bastante variado com fósseis (sempre bem fragmentários) indicando espécies que iam desde o tamanho de narcejas, como as retratadas, até quase tão grandes quanto um flamingo. Tais espécies já sofreram contestação, e o gênero talvez englobe aves de diferentes grupos. Mais ao fundo, na margem, o lagarto Saniwa ensidens de "quatro-olhos" (contando com o par de olhos comuns, o olho pineal e o olho parapineal) bebe e se aquece ao sol.

Partindo para o primeiro plano da cena, vemos movimentação no solo e na copa das árvores. No canto superior esquerdo, um Vulpavus ovatus descansa sobre o galho de uma árvore Lauraceae, sem notar que é observado pelo hienodonte Sinopa major logo abaixo. No canto direito, duas Notharctus tenebrosus fêmeas, primatas com cerca de 40 cm (sem contar a longa cauda), se alimentam das folhas de uma árvore Sapindaceae. Em galhos próximos, um casal de Zygodactylus sp. tenta impedir formigas gigantes Titanomyrma sp. (operárias com ~3 cm) de avançar em direção ao seu ninho com filhotes. Pelo solo, uma Boavus occidentalis, serpente com ~2 m, rasteja entre as folhas secas, enquanto uma Chimaeroblattina sp., inseto que mimetiza vespas, voa pelo canto inferior esquerdo.

Ao fundo, pelo lado esquerdo e adentrando a floresta, aparece um caçador que rivaliza em tamanho com o Patriofelis: medindo quase 2 m (fora a cauda), um Mesonyx obtusidens, predador ungulado basal com aspecto superficial de canídeo, segue um bando de Orohippus pumilus, pequenos equídeos com pouco mais que meio metro de comprimento. 

Finalizando os animais ilustrados, outro "visitante": a grande (~2 m de altura) ave Gastornis sp., que forrageia entre as plantas no centro da imagem, atrás do lago. O animal não é conhecido diretamente da Fm. Bridger, mas sua passagem pela região é especulada com base nos seus registros em outra Formação próxima, a Fm. Green River - assim como os Zygodactylus, as Titanomyrma e a Chimaeroblattina

A flora inclui sequoias distantes, palmeiras (Sabalites) próximas da margem e samambaias espalhadas pelo solo, parte das raras plantas fósseis conhecidas da Fm. Bridger. Green River também inspira a flora dessa época e região retratada na cena, expandindo a variedade de plantas com uma floresta mais rica em angiospermas formada por árvores como carvalho, canela e bordo, além das outras sapindácea e laurácea já citadas no primeiro plano, e algumas cucurbitáceas presentes no solo. 

Entre as rochas na margem do lago, a erosão revela um tesouro que conta um pouco da história que antecedeu essa paisagem, mostrando parte do crânio de um Torosaurus

Nova arte para o projeto Tales from the Phanerozoic, de João Macêdo. Confira aqui o capítulo sobre o Eoceno, com a história por trás da cena e informações detalhadas sobre o ambiente e as criaturas.


quarta-feira, 25 de junho de 2025

Atopodentatus

Atopodentatus unicus, um sauropterígeo basal do Triássico Médio da China. Dotado de um bizarro focinho em forma de martelo, este animal se alimentava de algas e é o mais antigo herbívoro marinho conhecido. Na larga frente da boca, numerosos dentes em forma de cinzel serviam para arrancar plantas do fundo, enquanto dentes posteriors em forma de agulha formavam um "pente" que filtrava a água e mantinha o alimento dentro da boca.

Porcelana fria, escala 1:8.