segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Apresentando Arenaerpeton supinatus!

Arenaerpeton supinatus, recém-descrito anfíbio que viveu durante o Triássico inferior/médio na Austrália.

Este temnospôndilo é conhecido por um fóssil quase completo, exposto em visão ventral, medindo 94 cm de comprimento sem contar a cauda, que não foi preservada. Sua descoberta reforça como sua família esteve bem estabelecida na Austrália ao longo do Mesozóico, marcando um intermediário em tamanho e tempo que agrega na sequência dos outros Chigustisauridae registrados no país - o menor Kerobrachyops do Triássico inferior e os maiores Siderops e Koolasuchus do Jurássico e Cretáceo, respectivamente.

O fóssil conta com impressões de tecido mole que sugerem uma pele lisa, um tanto mais larga que o esqueleto em seu abdômem, demonstrando possivelmente o inchaço após a morte. Não se descarta que a expansão da pele se deva à compressão ocorrida ao longo da fossilização ou, ainda, à largura natural em vida.

Na imagem, o predador avança para abocanhar um Cleithrolepis. A convite dos autores, tive o prazer de realizar a reconstrução em vida do Arenaerpeton para o artigo!

Confira a pesquisa:




Arte na capa do Journal of Vertebrate Paleontology, Volume 42, Edição 6 (2022)

quinta-feira, 13 de julho de 2023

O Começo de Uma Nova Era - Formação Santa Maria

A terrível grande extinção ao fim do Permiano dizimou a maior parte da vida na Terra e marcou o fim do Palozóico. Uma nova Era, o Mesozóico, começaria no planeta e em seu primeiro Período, o Triássico, a vida estava se recuperando e experimentando adaptações por diferentes nichos em um ecossistema muito abalado pela super extinção. Novas linhagens surgiram e prosperara, incluindo os dinossauros.

A arte retrata o paleoambiente da Formação Santa Maria, Triássico tárdio onde hoje está o Rio Grande do Sul. À frente da cena, um Dynamosuchus collisensis abate um Aetosauroides scagliai juvenil. Primariamente carniceiro, esse ornitossuquídeo de aprox. 2 m não perdeu aqui a oportunidade de abater um presa viva, onde a armadura do aetossauro jovem não foi impecilho para a mordida poderosa do carnívoro. Ele não poderá, no entanto, aproveitar essa caça bem-sucedida, pois um predador maior, um Rauisuchus tiradentes medindo 3 m, avança com a intenção de roubar seu prêmio. Dinossauros curiosos assistem a disputa: um par de Staurikosaurus pricei, terópodes com pouco mais de 2 m, observam tudo na segurança de uma pequena elevação. Um deles carrega na boca um Clevosaurus brasiliensis (um rincocefálio, assim como o moderno tuatara), pequena refeição que guardam para seus filhotes. Destinado a desabar da elevação esta um tronco já inclinado da ginkgófita Sphenobaiera sp.

Um grupo de Exaeretodon riograndensis, cinodontes altamente abundantes no registro fóssil, se alimentam de samambaias Cladophlebis sp. O crânio de um E. riograndensis adulto poderia chegar a ~28 cm, embora esse máximo possa ser devido a amostragem atual disponível. Seu parente da Formação Ischigualasto (Triássico tárdio na Argentina), E. argentinus, tem o maior crânio conhecido em torno de 49 cm, o que indica ou uma diferença clara de tamanho entre as espécies, ou sugere que o Exaeretodon de Santa Maria pudesse crescer mais.

Outros herbívoros comuns do ambiente também são vistos na área, os rincossauros de 1,3 m Hyperodapedon huenei, com seus estranhos bicos. Descansando na margem do rio, em frente as grandes cavalinhas Neocalamites sp., estão alguns Proterochampsa nodosa, predadores aparentemente semi-aquáticos cujo crânio, refleto de protuberâncias, alcançava ~42 cm.

Mais ao fundo está um Saturnalia tupiniquim, sauropodomorfo com menos de 2 m que reflete bem o início dessa linhagem - animais ágeis de pequeno/médio porte, bem diferente dos gigantes saurópodes que veríamos no Jurássico ou Cretáceo. Perto dele está um grupo de Ixalerpeton polesinensis, pequenos (aprox. 70 cm) parentes dos pterossauros. Descansando sobre um tronco caído está um formidável predador que beirava os 1,5 m, o cinodonte Trudidocynodon riograndensis

A flora dominante segundo o registro fóssil são múltiplas espécies de Dicroidium, planta retratada com o aspecto de uma longa palmeira (chegando a 10 m de altura) de tronco torcido, seguindo a reconstrução proposta para os Dicroidium da Formação Ischigualasto. São ilustrados também alguns indivíduos pequenos representando primariamente plantas jovens ou, de forma mais especulativa, espécies menores para sugerir a variedade dos fósseis. Outras árvores que compões a floresta da cena são Ginkgoites antartica e Podozamites sp., esta última reconstruída como uma grande conífera.

Taeniopteris sp. é uma planta enigmática, de um grupo que possivelmente crescia como "emaranhados" no entorno de rios sob a sombra de árvores, evitando assim competição por luz. Há ainda exemplares de Nilssonia (retratada com aspecto de cica, o que é incerto) e Williamsonia, que também marcam presença nos registros da Formação.

Nova arte para o projeto Tales from the Phanerozoic, de João Macêdo. Confira aqui o capítulo sobre o Triássico, com a história por trás da cena e informações detalhadas sobre o ambiente e as criaturas.





sábado, 11 de março de 2023

Cladocynodon - Registro de um Mundo Perdido

Primeiro vertebrado formalmente descrito para as "Camadas Batateira" da Formação Barbalha, Bacia do Araripe (Cretáceo Inferior): Cladocynodon araripensis, um peixe predador com aproximadamente 30 cm de comprimento. Até então, o único registro de vertebrados para o ambiente se dava por prováveis pegadas de dinossauros saurópodes.

Entre as características únicas que definem esse novo gênero e espécie, chama a atenção seu par de grandes "caninos" inferiores. Essas presas hipertrofiadas aparentam ser extensões diretas do osso dentário e não possuem esmalte - ou seja, não eram dentes reais. A boca contavam ainda com dentes verdadeiros, todos bem menores que o tal par de presas.

Cladocynodon faz parte da família Cladocyclidae e é o sexto peixe da ordem Ichthyodectiformes a ser encontrado no Brasil, sendo todos do Cretáceo e descobertos em bacias do Nordeste. A descrição desse novo integrante aumenta a diversidade do grupo e traz reflexões sobre seu paleoambiente, ainda tão desconhecido, e sobre a coerência na classificação dos ictiodectiformes.

A convite e supervisão de Alexandre Ribeiro, tive o prazer de realizar a ilustração para acompanhar o artigo!

Confira, no link abaixo, a pesquisa na íntegra: