terça-feira, 8 de outubro de 2024

Jeholopterus

Jeholopterus ningchengensis, pterossauro anurognatídeo que viveu na China durante o Jurássico Médio. 
Porcelana fria, escala 1:2.








domingo, 8 de setembro de 2024

Mar Agitado - Formação Toolebuc

Austrália durante o Cretáceo Inferior, registros da Formação Toolebuc. Acima e abaixo do mar, a vida segue agitada.

Na cena, o predador insuperável do ambiente, uma Kronosaurus queenlandicus de 10 m, persegue plesiossauros de pescoço longo, Eromangasaurus australis, de 7 m. A sombra colossal sob a água chama a atenção de um Thapunngaka shawi, pterossauro que sobrevoa a área. A Kronosaurus apreciará os nutrientes mais do que nunca em sua vida, pois está gerando seu primeiro filhote.

Um pouco distante dos plesiossauros, mais animais buscam por alimento. Um grupo de Platypterygius australis, ictiossauros de 6 m, lança um ataque bem organizado contra um cardume de Pachyrhizodus grawi, espécie com aproximadamente 45 cm. Baseada numa pesquisa sobre outro icitiossauro, o Stenopterygius, uma curiosidade retratada e especulada para o Platypterygius é a capacidade do animal de ajustar sua coloração para mais clara ou mais escura, devido aos seus pigmentos ramificados. Dessa forma, os Platypterygius próximos da superfície estão mais escuros e protegidos da radiação solar do que um indivíduo que, por estar localizado numa maior profundidade, está mais claro. 

Enquanto os répteis marinhos encurralam as presas, a ação mais direta e bruta de outro peixe predador chega de surpresa: um Australopachycormus hurleyi, predador de 3 m e dotado de um focinho pontiagudo, se lança em alta velocidade contra o cardume, abrindo um buraco nele conforme os Pachyrhizodus desviam. A agitação da caçada chama a atenção de mais predadores, fazendo com que outros Australopachycormus e alguns Cooyoo australis, com 2,5-3 m, nadem em direção ao cardume para tentar capturar alguma presa. No céu, os pterossauros Mythunga camara também aproveitam a oportunidade e tentam abocanhar os Pachyrhizodus próximos da superfície. De ponta a ponta das asas, esse pterossauro media quase 5 m.

Fora dessas caçadas, a tartagura protostegídea Notochelone costata, de cerca de 1,5 m, nada perto da superfície. No canto inferior esquerdo está o peixe Richmondichthys sweeti, filtrador que passava de 1,6 m. Dois tipos de amonitas estão presentes, alguns Myloceras sp. um pouco distantes à esquerda (acima do Richmondichthys) e um grupo de Beudanticeras flindersi à frente, no canto direito (embora uma revisão recente indique que os espécimes da Formação Toolebuc não pertençam a esse gênero). O que parecem ser pontos espalhados pelo fundo visto de longe se tratam, na verdade, de conchas gigantes do bivalve Inoceramus sutherlandi, de 1 m.

Na costa, alguns animais terrestres passam pelo local: um bando de Muttaburrasaurus langdoni, ornitópodes com cerca de 8 m, e um par de Kunbarrasaurus ieversi, pequenos anquilossauros com 2,5 m. Há ainda uma revoada das aves enantiornitina Nanantius eos.

Nova arte para o projeto Tales from the Phanerozoic, de João Macêdo. Confira aqui o capítulo sobre o Cretáceo Inferior, com a história por trás da cena e informações detalhadas sobre o ambiente e as criaturas.




sexta-feira, 8 de março de 2024

Jurássico, Era de Ouro - Formação Tendaguru

Enquanto o sol se põe e seus raios dourados desaparecem aos poucos, a vida segue ativa na Formação Tendaguru. Aqui, durante o Jurássico Superior onde é hoje a Tanzânia, houve uma savana tropical em uma região costeira marcada por estações chuvosas. Na cena, inclusive, as nuvens e os relâmpagos anunciam a chegada de mais uma temporada de fortes chuvas. 

A área próxima da costa era pobre em vegetação, mas as terras mais altas, como as ilustradas, abrigavam uma flora repleta de coníferas. Há registro de Cupressaceae, Taxaceae, Podocarpaceae possivelmente arbustivas, de grandes e comuns Araucariaceae e, por fim, do que seriam as árvores mais numerosas do ambiente, as Cheirolepidiaceae. Outras plantas conhecidas e aqui retratadas incluem ginkgófitas, cicas e, formando a vegetação mais baixa, raras samambaias.

Tal variedade de coníferas permitiu que grandes saurópodes prosperassem, se alimentando dessa vegetação alta. Na imagem vemos, logo no primeiro plano, um Giraffatitan brancai se alimentando em uma Cheirolepidiaceae. Sem perceber, o gigante importuna um enxame de Mecoptera (cujas espécies viventes são popularmente conhecidas como "moscas-escorpião"), importantes polinizadores das gimnospermas durante o Mesozóico. O alvoroço dos insetos chama a atenção de um Brancatherulum tendagurense, pequeno mamífero que está entre os galhos mais baixos da árvore, e buscará apanhar alguns desses invertebrados.

Giraffatitan foi bastante comum na região (de fato, é o saurópode com o mais abundante registro fóssil na Formação), e mais indivíduos são vistos caminhando à distância. Sua altura indisputável, com aproximadamente 13 m, permitia que esse herbívoro Macronaria alcançasse árvores sem competir com outras espécies. Outros saurópodes avistados no local são formas contrastantes a ele: Diplodocóideos, mais baixos e compridos (em especial pela longa cauda com aspecto de chicote). Há um grupo de Dicraeosaurus hansemanni, com seu porte modesto entre os saurópodes (~15 m), se alimentando de arbustos e árvores menores; mais afastado é visto um trio de Tornieria africana, espécie de grandes proporções (em torno de 25 m de comprimento).

Vale notar que os saurópodes são retratados com uma cobertura córnea no focinho, similar a um bico. A possibilidade já foi trazida à tona algumas vezes por diferentes autores, sendo o exemplo mais recente Garderes et al. (2023) para o Bajadasaurus.

Outros herbívoros também consomem a vegetação média e baixa, buscando as coníferas arbustivas, cicas e samambaias. À beira de um lago, pequenos ornitópodes de 2,5 m, Dysalotosaurus lettowvorbecki, forrageiam entre as samambaias enquanto seguem de perto um Giraffatitan. A "escolta" do gigante fornece não só proteção, pois desencoraja a aproximação de predadores, mas também oferece comida adicional por meio de folhas que o pescoçudo derrube das árvores ou, ainda, por suas fezes que possam interessar ocasionalmente aos Dysalotosaurus que busquem por nutrientes extras.

Do outro lado da cena, atentos a algo em comum, estão alguns Kentrosaurus aethiopicus, estegossauros de 4,5 m com placas e espinhos notáveis ao longo de seu dorso, e uma Elaphrosaurus bambergi, de 6 m, que caminha solitária. Essa foi uma espécie de terópode que, contanto que fosse como seu parente próximo, Limusaurus, se tratava de uma herbívora/onívora desdentada (perdendo os dentes ao longo do crescimento, ficando apenas com um bico na vida adulta). O que deixa esses dinossauros em alerta é um Veterupristisaurus milneri, predador de ao menos 8 m, que descansa sob uma árvore não muito longe.

O carcarodontossaurídeo não é o único terópode predador à vista. No lago, um Ostafrikasaurus crassiserratus acaba de capturar um peixe. A real identidade desse carnívoro é misteriosa, pois se trata de um dinossauro nomeado apenas com base em dentes. A ilustração usa da classificação proposta originalmente, um espinossaurídeo basal, mas desde então já foi proposta uma origem alternativa para os tais dentes, a Ceratosauridae. O peixe se trata de um Lepidotes tendaguruensis, pequena espécie (com 25 cm) dentro desse gênero amplamente distribuído.

A presença do pescador intimida alguns pterossauros (anteriormente descritos como 'Rhamphorhynchus tendagurensis', hoje um nome duvidoso) que também buscam por peixes. Eles continuam sobrevoando o lago, mas esperarão o dinossauro ir embora antes de descer até a água nessas proximidades. Outros pterossauros menores, Tendaguripterus recki com a envergadura das asas estimada em ~1 m, voam em grupo a uma altitude maior - experimentando, junto dos Giraffatitan, os últimos raios do sol naquele dia.

Nova arte para o projeto Tales from the Phanerozoic, de João Macêdo. Confira aqui o capítulo sobre o Jurássico, com a história por trás da cena e informações detalhadas sobre o ambiente e as criaturas.




segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Apresentando Arenaerpeton supinatus!

Arenaerpeton supinatus, recém-descrito anfíbio que viveu durante o Triássico inferior/médio na Austrália.

Este temnospôndilo é conhecido por um fóssil quase completo, exposto em visão ventral, medindo 94 cm de comprimento sem contar a cauda, que não foi preservada. Sua descoberta reforça como sua família esteve bem estabelecida na Austrália ao longo do Mesozóico, marcando um intermediário em tamanho e tempo que agrega na sequência dos outros Chigustisauridae registrados no país - o menor Kerobrachyops do Triássico inferior e os maiores Siderops e Koolasuchus do Jurássico e Cretáceo, respectivamente.

O fóssil conta com impressões de tecido mole que sugerem uma pele lisa, um tanto mais larga que o esqueleto em seu abdômem, demonstrando possivelmente o inchaço após a morte. Não se descarta que a expansão da pele se deva à compressão ocorrida ao longo da fossilização ou, ainda, à largura natural em vida.

Na imagem, o predador avança para abocanhar um Cleithrolepis. A convite dos autores, tive o prazer de realizar a reconstrução em vida do Arenaerpeton para o artigo!

Confira a pesquisa:




Arte na capa do Journal of Vertebrate Paleontology, Volume 42, Edição 6 (2022)

quinta-feira, 13 de julho de 2023

O Começo de Uma Nova Era - Formação Santa Maria

A terrível grande extinção ao fim do Permiano dizimou a maior parte da vida na Terra e marcou o fim do Palozóico. Uma nova Era, o Mesozóico, começaria no planeta e em seu primeiro Período, o Triássico, a vida estava se recuperando e experimentando adaptações por diferentes nichos em um ecossistema muito abalado pela super extinção. Novas linhagens surgiram e prosperara, incluindo os dinossauros.

A arte retrata o paleoambiente da Formação Santa Maria, Triássico tárdio onde hoje está o Rio Grande do Sul. À frente da cena, um Dynamosuchus collisensis abate um Aetosauroides scagliai juvenil. Primariamente carniceiro, esse ornitossuquídeo de aprox. 2 m não perdeu aqui a oportunidade de abater um presa viva, onde a armadura do aetossauro jovem não foi impecilho para a mordida poderosa do carnívoro. Ele não poderá, no entanto, aproveitar essa caça bem-sucedida, pois um predador maior, um Rauisuchus tiradentes medindo 3 m, avança com a intenção de roubar seu prêmio. Dinossauros curiosos assistem a disputa: um par de Staurikosaurus pricei, terópodes com pouco mais de 2 m, observam tudo na segurança de uma pequena elevação. Um deles carrega na boca um Clevosaurus brasiliensis (um rincocefálio, assim como o moderno tuatara), pequena refeição que guardam para seus filhotes. Destinado a desabar da elevação esta um tronco já inclinado da ginkgófita Sphenobaiera sp.

Um grupo de Exaeretodon riograndensis, cinodontes altamente abundantes no registro fóssil, se alimentam de samambaias Cladophlebis sp. O crânio de um E. riograndensis adulto poderia chegar a ~28 cm, embora esse máximo possa ser devido a amostragem atual disponível. Seu parente da Formação Ischigualasto (Triássico tárdio na Argentina), E. argentinus, tem o maior crânio conhecido em torno de 49 cm, o que indica ou uma diferença clara de tamanho entre as espécies, ou sugere que o Exaeretodon de Santa Maria pudesse crescer mais.

Outros herbívoros comuns do ambiente também são vistos na área, os rincossauros de 1,3 m Hyperodapedon huenei, com seus estranhos bicos. Descansando na margem do rio, em frente as grandes cavalinhas Neocalamites sp., estão alguns Proterochampsa nodosa, predadores aparentemente semi-aquáticos cujo crânio, refleto de protuberâncias, alcançava ~42 cm.

Mais ao fundo está um Saturnalia tupiniquim, sauropodomorfo com menos de 2 m que reflete bem o início dessa linhagem - animais ágeis de pequeno/médio porte, bem diferente dos gigantes saurópodes que veríamos no Jurássico ou Cretáceo. Perto dele está um grupo de Ixalerpeton polesinensis, pequenos (aprox. 70 cm) parentes dos pterossauros. Descansando sobre um tronco caído está um formidável predador que beirava os 1,5 m, o cinodonte Trudidocynodon riograndensis

A flora dominante segundo o registro fóssil são múltiplas espécies de Dicroidium, planta retratada com o aspecto de uma longa palmeira (chegando a 10 m de altura) de tronco torcido, seguindo a reconstrução proposta para os Dicroidium da Formação Ischigualasto. São ilustrados também alguns indivíduos pequenos representando primariamente plantas jovens ou, de forma mais especulativa, espécies menores para sugerir a variedade dos fósseis. Outras árvores que compões a floresta da cena são Ginkgoites antartica e Podozamites sp., esta última reconstruída como uma grande conífera.

Taeniopteris sp. é uma planta enigmática, de um grupo que possivelmente crescia como "emaranhados" no entorno de rios sob a sombra de árvores, evitando assim competição por luz. Há ainda exemplares de Nilssonia (retratada com aspecto de cica, o que é incerto) e Williamsonia, que também marcam presença nos registros da Formação.

Nova arte para o projeto Tales from the Phanerozoic, de João Macêdo. Confira aqui o capítulo sobre o Triássico, com a história por trás da cena e informações detalhadas sobre o ambiente e as criaturas.





sábado, 11 de março de 2023

Cladocynodon - Registro de um Mundo Perdido

Primeiro vertebrado formalmente descrito para as "Camadas Batateira" da Formação Barbalha, Bacia do Araripe (Cretáceo Inferior): Cladocynodon araripensis, um peixe predador com aproximadamente 30 cm de comprimento. Até então, o único registro de vertebrados para o ambiente se dava por prováveis pegadas de dinossauros saurópodes.

Entre as características únicas que definem esse novo gênero e espécie, chama a atenção seu par de grandes "caninos" inferiores. Essas presas hipertrofiadas aparentam ser extensões diretas do osso dentário e não possuem esmalte - ou seja, não eram dentes reais. A boca contavam ainda com dentes verdadeiros, todos bem menores que o tal par de presas.

Cladocynodon faz parte da família Cladocyclidae e é o sexto peixe da ordem Ichthyodectiformes a ser encontrado no Brasil, sendo todos do Cretáceo e descobertos em bacias do Nordeste. A descrição desse novo integrante aumenta a diversidade do grupo e traz reflexões sobre seu paleoambiente, ainda tão desconhecido, e sobre a coerência na classificação dos ictiodectiformes.

A convite e supervisão de Alexandre Ribeiro, tive o prazer de realizar a ilustração para acompanhar o artigo!

Confira, no link abaixo, a pesquisa na íntegra:







segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Como pesar um anfíbio pré-histórico?

É complicado estimar a massa de um temnospôndilo, pois esses anfíbios não têm descendentes atuais para realizar comparações e testes diretos. O recém-publicado estudo de Lachlan Hart, Nicolás Campione e Matt McCurry aborda o tema com técnicas variadas, as aplicando nos temnospôndilos Eryops megacephalus e Paracyclotosaurus davidi, bem como em alguns animais modernos para analisar a consistência dos resultados. 

Os autores constatam que possivelmente não há uma técnica absoluta para se utilizar nesses anfíbios, pois o grupo é ricamente diversificado e a preservação e a preparação dos seus fósseis variam muito. No entanto, o conjunto de diferentes técnicas oferece bons resultados, e é possível selecionar as abordagens ideais para um determinado espécime.

No estudo, Eryops foi estimado em 102-222 kg, e Paracyclotosaurus em 159-365 kg. É importante podermos calcular a massa de animais extintos pois, quanto melhor conhecermos esse valor, melhor entendemos como era a vida dessas criaturas.

Tive o prazer de realizar a ilustração abaixo para a divulgação da pesquisa!

Confira o artigo aqui:

sábado, 29 de outubro de 2022

A Seca e a Tempestade - Permiano de Karoo

Bacia do Karoo, especificamente a Zona de Associação de Tapinocephalus. Durante o Permiano Médio, o local que se tornaria a África do Sul passa por uma seca que se prolonga além do usual e testa o limite dos animais. O nível da água está preocupante e o sol é implacável, mas a tão aguardada chuva se aproxima pelo horizonte.

Um trio de grandes sinapsídeos, os Jonkeria truculenta, se aproxima do rio para beber água. O anfíbio Rhinesuhus whaitsi parece se incomodar com esses dinocefálios sedentos, e escancara sua boca para assustá-los. Do outro lado do rio, um enorme Anteosaurus magnificus boceja e também se dirige à água. Este é o maior predador do local (o crânio chegava a ~80cm), mas no momento está interessado apenas em matar a sede. À frente, no canto inferior direito, aparecem dois pequeninos escavadores: o dicinodonte Diictodon feliceps espia fora de sua toca, e um Eunotosaurus africanus se aquece sobre uma pedra. Este último é possivelmente um tipo de "proto-tartaruga", mas não sem incertezas - um estudo mais recente o classificou mais afastado das tartarugas e dos outros répteis viventes no geral.

Ao fundo, à esquerda, um grupo de Tapinocephalus atherstonei protagonizam um combate peso-pesado: um jovem macho desafio o alfa do bando, que apesar de maior, tem a desvantagem da idade e da saúde debilitada. Tapinocefalídeos posssuíam crânios maciços e adaptados para desferir cabeçadas, sendo um dos primeiros grupos (se não o primeiro) a desenvolver esse hábito. No lado oposto, alguns pareiassauros, os Bradysaurus baini, descansam na sombra de uma árvore. A árvore se trata da "samambaia-com-sementes" Glossopteris sp., que está em época de perder suas folhas (por isso seu aspecto seco). Outras plantas na cena são as cavalinhas Schizoneura sp., que aparecem nas margens do rio, e as prováveis araucariáceas Agathoxylon sp. que se espalham ao fundo, à frente das montanhas Gondwanides.

Nova arte para o projeto Tales from the Phanerozoic, de João Macêdo. Confira aqui o capítulo sobre o Permiano, com a história por trás da cena e informações detalhadas sobre o ambiente e as criaturas.



sábado, 16 de julho de 2022

Gigantes do Pântano - Carbonífero da Escócia

Visão dos pântanos que percorriam o território que se tornaria a Escócia. Carbonífero Inferior, idade Viseiana. 

O ambiente foi o lar de gigantes, mas de tipos diferentes do que estamos acostumados hoje em dia: artrópodes alcançavam tamanhos extraordinários, e as florestas eram majoritariamente formadas por enormes licopódios arbóreos. Licopódios são um dos grupos mais antigos de plantas vasculares, e se reproduzem por esporos ao invés de sementes. Em contraste a esses titãs do Carbonífero, contam apenas com espécies viventes pequenas.

Entre as plantas da cena, a mais abundante é Lepidodendron, licopódio com tronco de aparência escamosa que chagava a 50m de altura. As demais árvores ilustradas são o outro licopódio Sigillaria, algumas cavalinhas gigantes Calamites e a gimnosperma Cordaites. Plantas menores são a "samambaia-com-sementes" (que não se tratam de uma samambaia. apesar do nome popular) Medullosa e a cavalinha Sphenophyllum.

Um dos maiores artrópodes conhecidos, o milípede Arthropleura, aparece cruzando um tronco de Lepidodendron caído. As maiores espécies desse provável herbívoro poderiam chegar a 2m de comprimento. Também no tronco está o pequeno (com pouco mais de 40cm) temnospôndilo Balanerpeton.

Outro artrópode gigante, desta vez um predador, está caçando à direita da cena: um Pulmonoscorpius, escorpião que poderia alcançar 70cm, agarra um Westlothiana pela cauda. Este pequeno animal com aspecto de lagarto se trata de um parente dos primeiros amniotas.

Além desse escorpião verdadeiro, um dos popularmente chamados "escorpiões-do-mar" também é visto saindo da água ao fundo do ambiente. Um Hibbertopterus, euriptérido (parentes próximos dos aracnídeos) que passava dos 1,5m, se arrasta desajeitadamente para a terra firme - hábito registrado em traços fósseis, mostrando que o animal poderia sobreviver algum tempo fora da água. Também na água, o "proto-tetrápode" Crassigyrinus emerge pra observar a superfície, e o tubarão Tristychius marca presença no canto esquerdo, com suas barbatanas dorsais dotadas de um espinho cada.

Nova arte para o projeto Tales from the Phanerozoic, de João Macêdo. Confira aqui o capítulo sobre o Carbonífero, com a história por trás da cena e informações detalhadas sobre o ambiente e as criaturas.





 

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Lusitadischia

Importante adição aos insetos pré-históricos de Portugal: Lusitadischia sai, ortóptero da família Oedischiidae, do Carbonífero Superior. 

O novo táxon é conhecido por uma asa dianteira, e seu raro fóssil demonstra que a diversidade de insetos portugueses do Carbonífero tem sido subestimada por causa da dificuldade em fossilizar e preservar esse tipo de animal. 

Vale notar que seu nome é dedicado ao paleontólogo Artur Sá, por toda a sua contribuição à área.

A sugerida aparência para o inseto em vida é baseada na reconstrução de Martynov (1938) para Metoedischia, parente próximo contemporâneo de Lusitadischia. Tive o prazer de realizar a ilustração a convite de Pedro Correia para a divulgação da pesquisa na imprensa! 

Confira o artigo descrevendo Lusitadischia sai: