Em sua pesquisa recém publicada, os paleontólogos Leonardo Avilla e Dimila Mothé realizaram a até então mais abrangente análise filogenética com mamíferos ungulados nativos da América do Sul ("SANUs", na sigla em inglês para "South American native ungulates") e outros Eutheria, trazendo importantes resultados para sua classificação. A filogenia desses animais foi melhor esclarecida, e uma nova linhagem de ungulados nativos sul-americanos foi identificada dentro da Afrotheria: a Sudamericungulata.
Os SANUs incluem os Astrapotheria, Didolodontidae, Litopterna, Notoungulata, Pyrotheria e Xenungulata. Sua classificação costuma ser um tanto complicada, pois geralmente a amostragem dos grupos analisados não é ideal (nunca abrangendo todas as linhagens de uma vez). Tradicionalmente, todos têm sido agrupados como Meridiungulata, como animais mais próximos entre si do que de outros ungulados. O novo trabalho, ao analisar filogeneticamente características morfológicas de integrantes de todos os grupos de SANUs juntos + outros Eutheria, mostra que Meridiungulata não é natural. Uma de suas linhagens, a agora reconhecida Sudamericungulata (Astrapotheria, Notoungulata, Pyrotheria e Xenungulata), se encontra entre os Afrotheria, enquanto o outro ramo, os Panameriungulata (Didolodontidae e Litopterna), são mais próximos de mamíferos Laurasiatheria.
Dentro dos afrotérios, os sudamericungulados são mais próximos dos Hyracoidea. Pela idade dos membros mais antigos conhecidos de cada um desses grupos, seu último ancestral em comum data do Paleoceno. Esse resultado é possível e apoiado pelo modelo paleogeográfico Atlantogea, onde uma cadeia de ilhas formada do Cretáceo Superior ao Eoceno, constituída em parte pela Elevação do Rio Grande e a Cordilheira de Walvis, conectava a América do Sul à África durante esse período.
Na imagem, a América do Sul e a África são mostradas com a paleogeografia de 50 MA, durante o Eoceno Inferior, incluindo a rota de ilhas do modelo Atlantogea conectando os Continentes. Os Sudamericungulados ilustrados são Astrapotherium burmeisteri, Carodnia vierai e Toxodon platensis, e os outros Afrotérios são Arsinoitherium zitteli e espécies viventes de damão (Procavia capensis), elefante (Loxodonta africana) e tenreque (Hemicentetes semispinosus).
A convite e supervisão dos autores Leonardo e Dimila, tive o prazer de produzir a ilustração para a divulgação da pesquisa!
Confira, no link abaixo, o artigo na íntegra:
Pintura digital, Wacom Intuos + Photoshop CS5.