sexta-feira, 29 de abril de 2022

Lusitadischia

Importante adição aos insetos pré-históricos de Portugal: Lusitadischia sai, ortóptero da família Oedischiidae, do Carbonífero Superior. 

O novo táxon é conhecido por uma asa dianteira, e seu raro fóssil demonstra que a diversidade de insetos portugueses do Carbonífero tem sido subestimada por causa da dificuldade em fossilizar e preservar esse tipo de animal. 

Vale notar que seu nome é dedicado ao paleontólogo Artur Sá, por toda a sua contribuição à área.

A sugerida aparência para o inseto em vida é baseada na reconstrução de Martynov (1938) para Metoedischia, parente próximo contemporâneo de Lusitadischia. Tive o prazer de realizar a ilustração a convite de Pedro Correia para a divulgação da pesquisa na imprensa! 

Confira o artigo descrevendo Lusitadischia sai:




quinta-feira, 21 de abril de 2022

Vida e morte no Devoniano - Cleveland Shale

Cleveland Shale, Devoniano Superior (Fameniano) onde se tornaria Ohio, nos EUA.

Em águas rasas, uma grande e já idosa Titanichthys clarki aparece dando à luz um filhote. Este gigante filtrador foi um dos maiores peixes placodermos, alcançando em média 4,15 m* de comprimento. 

A movimentação debilitada da fêmea e o cheiro de sangue atraem atenção indesejada: um trio de "pequenos" (cerca de 1,5 m) Cladoselache sp., holocéfalos (parentes das modernas quimeras) semelhantes a tubarões, se voltam ao filhote. O tamanho do recém-nascido possivelmente já desencorajaria esses predadores de animais pequenos, mas de qualquer forma os 3 são espantados por um Gorgonichthys clarki que se aproxima pela direita. Esse placodermo "dentes-de-sabre", também de grandes dimensões (possivelmente também com um comprimento em torno de 4 m), daria preferência a presas menores e sem carapaça, se interessando mais pelos "tubarões" do que por outros placodermos.

À distância, um perigo maior também notou a fragilidade da mãe e do filhote: um Dunkleosteus terrelli, um dos candidatos para maior placodermo (medindo por volta de 3,4-4 m*). O tamanho e a "armadura" da Titanichthys não devem assegurá-la contra esse carnívoro de grande porte e mordida esmagadora.

Outra espécie de Titanichthys, a menor T. agassizi, é vista se alimentando em um pequeno grupo distante. Também aparecem conodontes, amonóides e alguns corais (rugosos e tabulados), estes últimos muito presentes ao longo do Devoniano, mas raros nesta cena do final do Período. Organismos microbianos, representados aqui por estromatólitos e uma lama negra de tapetes microbianos, estavam tomando o lugar dos animais na formação de recifes, devido a água sem oxigênio do fundo.  

Nova arte para o projeto Tales from the Phanerozoic, de João Macêdo. Confira aqui o capítulo sobre o Devoniano, com a história por trás da cena e informações detalhadas sobre o ambiente e as criaturas.

*Atualização 26/11/23: entre outros pequenos ajustes, os placodermos tiveram a proporção de seus corpos refeita. Engelman (2023) propôs um novo método para calcular o comprimento do Dunkleosteus (usando a distância da órbita para o opérculo), resultando em estimativas menores do que as anteriores e um aspecto mais robusto e atarracado para esses peixes. O novo método prevê o comprimento de outros peixes, incluindo placodermos com impressões do corpo preservada, com precisão considerável, então pode se tratar da nossa melhor tentativa de estimar o tamanho desses animais até agora.